Morto Por Dentro

Introdução:
 Pensamento do Autor
Medo da morte
É preciso afugentar com ímpeto esse "medo dos Infernos" que as pessoas sentem da morte se ela é a única certeza que temos na “vida” Este pavor infernal e desesperador que perturba profundamente a vida do homem, não o deixando viver plenamente por saber que vai morrer. Mesmo quando estamos felizes, sobre nós, paira o véu de insegurança se estendendo sobre tudo; que é a lúgubre sombra de morte.
 Não deixando existir nas pessoas nenhuma alegria serena e inteira, porque, sempre paira o medo do desconhecido. 

Capitulo 1

A Noite vai alta! Elas nem sabem que horas tem, estão lutando há dois dias com a morte dele. A febre estava muito alta, ele não voltava à consciência, elas acharam que iria perdê-lo. Mas acreditavam em Deus e na força de vontade que morava ali dentro do coração dele. Uma vontade inabalável de se vingar. Isso dava coragem a elas de continuar lutando por ele. Elas sabiam que ele não morreria antes de cumprir ao que se propôs.

- Se você quer viver, toma esse caldo agora!!

A ordem reverberou na voz grave da moça.
Ele ajudou levantando um pouquinho a cabeça ainda tonto e fraco e abriu a boca para a moça lhe dar as colheradas de caldo de galinha.
Entreolharam-se, satisfeitas por este ter conseguido.
Ela continuou servindo delicadamente o caldo a ele, com cuidado para que ele não engasgasse. 
Quando ele conseguiu tomar a terça parte do prato de caldo, elas o limparam e o deixaram descansar.

... 11h19min ele acorda! Atordoado, olha em volta não conhece nada ali  não sabe onde está, ouve pássaros gorjeando, sente a brisa deliciosa que entra pela janela, as cortinas brancas balançam e ferem seus olhos acostumados com a escuridão, ele vai se levantar, quer ir até a janela, quando tenta jogar as pernas para fora da cama sente uma forte dor no abdômen volta a posição respirando fundo e se acomodando na cama novamente. Passa a mão no abdômen, está enfaixado, levanta os lençóis para olhar o ferimento, pois não lembra como o arrumou...
  Está nu! Estranho... Ele nunca fica completamente nu, pode precisar sair às pressas. 
Ele põe as duas palmas das mãos no colchão ao longo do corpo e força um pouquinho de cada vez para se sentar encostando-se a cabeceira, faz isso até conseguir sentar, na mesinha do lado tem um copo, uma jarra com água e uma pequena bacia de louça com uma toalha em cima. Ele entendeu que seria para lavar o rosto e o fez. Passou a mão molhada nos cabelos dando um jeitinho, e tomou um pouco de água. Novamente se preparou para levantar, retirou o lençol e segurou as pernas com cuidados para colocá-las ao lado da cama, pisar no chão e ver se dava para levantar. Nisso entram duas jovens... 

Ele tenta voltar à posição para se cobrir, mas não consegue fica vermelho e sem jeito.
A mais velha das moças chega perto, pega a perna que ele já havia colocado fora da cama e suspende para o lugar de direito dizendo:

- Não precisa ficar sem graça, nós já vimos tudo que você tem ai. Não estou dizendo que não apreciamos, mas no momento o que queremos, é que você se recupere.

E cobre novamente o homem. Ele pergunta:

= Quem são vocês? Onde estou? Não lembro como ganhei esse ferimento.

- Acalme-se somos do bem! Disse a moça mais jovem.

A mais velha se apresentou.


- Sou free-lance do Dr. Andrea, minha tarefa é fotografar cenas do crime, mas tenho formação de cinegrafista de documentários. Eu atuava entre a fotografia e a filmagem de uma cobertura jornalística, quando o Dr. Andrea me descobriu por minha facilidade em encontrar os recursos que estas duas linguagens visuais permitem. Sou apta em alimentar tanto a versão imprensa como o site de um jornal em qualquer necessidade de cobertura jornalística.

Ela você já conhece não é?

= Conheço?

- Claro! Ela é a Vânia a menina que você deu um susto no beco e salvou a vida. Não lembra? Ela tinha ido comprar um “baseado”

Sebasthien puxa na memória, lembra-se dela e diz surpreso:

= É você? Que bom você está muito bem!

Vânia que se manteve calada põe os cabelos vermelhos detrás da orelha e fala:


- Graças a você VINGADOR! Naquele dia eu ia ser pega por uns garotos que eu estava esperando para comprar meu “baseado”, eu soube que você deu um jeito neles. Agora eles trabalham na fabrica de cartões do centro de recuperação.

= E o que aconteceu comigo?

- Você foi ferido por Samir um carrasco do mafioso do “Beco” Ele em sua loucura, com todo dinheiro que possuía, comprou o salão embaixo da igreja e o deixou como uma mansão dos horrores, dizia pros comparsas tão loucos quanto ele já que acreditavam e participavam da orgia, que ele era um Deus! E faziam sacrifício com jovens meninas e comiam os corações delas. Samir era homossexual, e também apaixonado pelo francesinho de nome Etienne que morreu tragicamente, você o conhecia?

Sebasthien pensa um pouco, depois responde triste:

= Não... Eu não conhecia Etienne.

Não fique triste! Etienne com certeza preferiu ter morrido.
E Samir? Você deu a ele o que ele merecia.

= Samir? Sabrina... Ela era tão jovem, tão linda, parecia uma miragem. – diz Sebasthien se lembrando de tudo.

= E vocês, como me encontraram?

- Vânia ia passando pelo beco e te encontrou desmaiado, reconheceu você e me chamou para ajudá-la, Ela sabe que eu torço por você acabar com essa facção que existe na Rua projetata. E quando me ligou eu estava diante do Dr. Andrea, que viu meu disfarçar e quis saber do que se tratava, eu disse que uma amiga estava me chamando com urgência, ele prontamente quis me levar até Vânia, eu não aceitei, ele então perguntou como era urgência se eu nem queria ajuda. Fiquei muda! Logo eu que sou muito safa, ele perguntou de onde era minha amiga, quando eu disse do “Beco” Ele pegou as chaves e disse:

- Vamos rápido ele está sangrando muito, pode morrer e nós não queremos isso não é?

- Eu me calei e o segui! Trouxemos você para esse apartamento que era de meus pais, é afastado da cidade, Dr. Andrea disse que tanto a máfia quanto a polícia não podem saber seu paradeiro.

= Obrigado! Não sei como agradecer tanto zelo!

- Faça o que vem fazendo nos livre desses cretinos que ficaremos felizes.

= Sim me ajudem a levantar, por favor. Pensando bem, você não me disse seu nome senhorita Free-lance.

-Nada disso! O senhor vai permanecer aqui uns dias mais. Ordem médicas. – disse Vânia decidida.

= Médico? Qual médico? – perguntou Sebasthien preocupado.

- Do Dr. Morano meu excelentíssimo papa. E meu nome senhor VINGADOR é Luzia, Luzia Morano.

= Obrigado Vânia e Luzia! Por me salvar a vida! Agradeçam ao carcamano do Giordana por mim.

- Vamos buscar seu almoço fizemos uma canja que levanta até elefante.

= Desde quando elefantes comem canja? – perguntou Sebasthien, as duas olharam surpresas para ele, o VINGADOR estava fazendo piada! Até ele mesmo se espantou e depois deram boas gargalhadas. Sebasthien havia esquecido o que era rir alto desse jeito, elas saíram do quarto sorrindo e se esbarrando uma na outra.

Capítulo 2

Quando trouxeram a comida não viram mais seu hospede. Ligaram imediatamente para Andrea e contaram a ele sobre o acontecido.
Andrea as dispensou, disse que ele não votaria e agradeceu os cuidados das moças que deixaram seus afazeres por quase uma semana.
Um mês depois ninguém ouvia mais falar do VINGADOR.
Charles Durning voltou a ativa já que o burburinho era que o VINGADOR tinha morrido. A guerra de gangs estava acirrada, as pessoas sofriam com o tiroteio constante, e as balas perdidas sempre achando paradeiro nas carnes inocentes da população do Gueto. O governo mandou a força de elite para salvar o dia. Mas os soldados não estavam preparados para isso e novamente a população chorava nos cemitérios da cidade. Eles atiravam sem noção, sem nenhum preparo para isso. E os mafiosos invadiam a outra parte da cidade sem clemências só queriam mostrar quem era o melhor bando, a melhor gang, o melhor chefão.
Andrea começou a se preocupar e em surdina procurar quem sabia onde morava O VINGADOR. Chamou os peritos em rastreamento para descobrir pela chamada do celular onde morava o dono daquele CPF.
Depois foi até a zona de guerra e ficou penalizado com a cena: Carros em chamas, disparos, gritos, caos.
Andrea improvisou uma resistência com os ônibus que não conseguiam entrar no Gueto, todos estavam com medo dos tiros cruzados. Andrea liderou o comboio servindo coletes blindado aos motoristas dos ônibus, mandou que os passageiros deitassem no chão, que ninguém ficasse nos bancos e em alta velocidade atravessavam o fogo cruzado levando as pessoas para a segurança de suas casas. Restava apenas um ultimo ônibus com apenas cinco passageiros, Andrea perguntou ao motorista se ele faria sem ele essa viagem, o motorista respondeu que sim, disse que ele morava na Projetata. Colocou o colete pediu aos passageiros que deitassem no chão e investiu contra o fogo cruzado. Andrea conseguiu escapar a bordo de um caminhão forçando caminho entre os veículos e os bandidos. O motorista do ônibus se viu entre balas certeiras que o interceptaram no ar, ao ver isso Andrea virou seu caminhão e com um avanço irrefreável investiu contra o atirador na escuridão.
O ônibus passou e o caminhão rolou na ribanceira despencando do elevado. Andrea saltou antes que ele caísse lá embaixo na estrada ficando dependurado no alambrado da marginal.
Com muito esforço conseguiu voltar à pista e foi se esgueirando entre a fila de carros que não podiam entrar no “Beco”. Foi para casa tomar um bom banho quente e tentar dormir. No dia seguinte iria procurar O VINGADOR.
O telefone toca insistente acordando Andrea que levanta rápido e atende ao telefone:

- Alô! Aqui é Andrea Giordana quem fala?

- Sou eu senhor o Cosme! Consegui o GPS do celular.

- Está bem me espere na portaria estou indo pra ai

Andrea se veste rápido, antes de sair acorda a moça que dormia com ele, dá um beijo nela, diz para onde vai e saem cada um em seu carro, não podem ser visto juntos, não é permitido namoro entre colegas.

Capitulo 3

Andrea chega ao prédio abandonado sobe bem depressa sem ser visto e vai até o AP do VINGADOR bate na porta, essa abre com o seu esmurrar. Ele entra e vai até o quarto, o cheiro e insuportável, Sebasthien permanece sentado quase recostado em uma pequena poltrona com o olhar perdido em uma florzinha seca em um vaso também seco. Andrea pega um cadeira senta ao lado dele, Sebasthien não fez sinal de notar a proximidade dele. continuava hipnotizado pela carcaça da florzinha.

-Sebasthien! - Andrea iniciou a conversa, sabia que mesmo parecendo tão alheio ele o ouvia.

- Você sabe que precisa ir lá não sabe?

Silêncio!
Presta atenção cara... Você é O VINGADOR!
Você é o cara mais foda que já conheci em toda a vida.
E você sabe que nessa nossa vida de soldado contra o crime nós passamos por vários parceiros! Então para com isso! Vamos, homem! REAGE!
Ao ouvir a palavra “parceiro” A face do Frances se retorceu por um instante, mas voltou ao estado inexpressivo de sempre. Andrea continuou.

- Reage VINGADOR! Você sabe que ESSA é a hora! Durnning e sua corja estão logo ali, esperando.

Eles acham que você morreu cara! Você tem que mostrar a eles que o VINGADOR não morre. Você VAI levantar daqui e ir até lá, para Durnning VER com seus próprios olhos. - Falou aquele que atualmente era o único amigo que o VINGADOR tinha na Terra. Mesmo que ele não acreditasse mais em amizade. Andrea continuou:

- Porque se você não for VINGADOR... Você vai se arrepender. Vai lamentar pelo resto da vida. Eu conheço você.
Sebasthien não moveu o rosto, mas o olho virou para o lado do Andrea, o que deu a ele autonomia de continuar.

- Você sabe que se não reagir e for lá agora, aquele homem vai continuar sendo esse monstro na sua mente. Você vai alimentar esse sentimento de vingança e humilhação que te põe pra baixo... Ele vai ser um maldito fantasma que, na sua merda de cabeça perturbada, pode voltar e arrasar contigo a hora que ele quiser.

Sebasthien moveu o rosto para o outro lado. Andrea perdeu a calma:

– Ah então VINGADOR! É isso que você quer ser daqui pra frente? Um COVARDE?

Sebasthien olhou nos olhos dele. Andrea sentiu o drama que ele vivia nesse olhar, comparado a sua identidade anterior Sebasthien se encontrava reduzido a um “NADA”. Andrea jogou sua ultima carta:

- Sabe o que dizem na minha cidade, VINGADOR? Eu sou do interior de Vêneto. – Dizem que o preço da covardia é a morte! E que se um homem não tiver coragem pra resolver isso, ele ainda pode viver sua vida. Mas estará morto por dentro.

O que vem a seguir custou muito ao VINGADOR.
Sebasthien segurou nos braços da poltrona, estendeu o corpo para fora do acento, os ossos da costela estalavam, Sebasthien vacilou, mas conseguiu firmar o pé no chão e levantar sem cair. E caminhou! Um passo de cada vez! Tenso! Hesitante!
Até que não estava tão mal considerando que devia estar gangrenado ou morto. Sua aparência era horrível, repleto de ataduras colocadas de qualquer jeito, o corpo encolhido, corcunda, reflexo das muitas horas sentado no mesmo lugar e posição.
Os curativos protegiam Andrea de ver escaras horríveis que ficavam expostas nas camadas subcutâneas, de pústulas amarelas, macilentas, pulsante. As gazes precisavam ser trocadas várias vezes, mas ele não o fazia, O Pus nascia do tecido necrosado pelos maus tratos da ferida em lugar de difícil cicatrização. “O abdômen” Sebasthien endireitou o corpo, não sem dificuldade. Tudo ficou claro para ele agora. Precisava abandonar o passado, as pessoas que morreram por amá-lo, e se concentrar na guerra das Gangs que estava acontecendo na cidade de Nápoles, na cidade que ele escolheu para morar. Mesmo sendo onde ele passou os piores momentos de sua vida, Era onde precisavam dele. Precisava acalmar sua dor, adormecê-la para poder enxergar que não é só ele quem sofre, ele é apenas mais um nesse mundo infeliz. Principalmente esquecer o ódio por Charles Durnning, Os dois estavam no mesmo patamar, - os dois perderam a quem amava de maneira trágica. Sebasthien precisava deixar tudo para trás, agora ele tinha amigos que se importavam com ele, e o amava sobre quaisquer circunstâncias.
 A semana seguinte foi determinante na sua recuperação. Sebasthien se alimentou bem, caminhou todos os dias, passou a fazer exercícios. A cicatrização, A memória, o raciocínio, tudo voltou aos poucos.
O primeiro lugar que Sebasthien visitou, foi a casa de numero 25 no Boulevard Palmares... Ao norte do Gueto a casa onde acordou depois de ser ferido por Samir, queria olhar com olhos límpidos o lugar onde começou sua nova vida.
  Depois foi para A Rua Projetata no “Beco” as ruas quase não tinha movimento. O comércio estava de portas arriadas. Os moradores assustados e encolhidos dentro de suas casas. Todas com as portas e as janelas, reforçadas com tábuas, com placas de compensado.
O medo estampado no rosto de quem realmente tinha a necessidade de sair. Sem contar na chuva torrencial que caía desde a madrugada. Ao chegar à projetata viu o caos que se instalara. Na marginal uma fila de automóveis num engarrafamento monstruoso, aquele local era de trafego fluente. Sebasthien pulou o muro de um prédio com água até aos joelhos e foi vendo o caos que se transformou esta cidade, muitos vestígios de batalha, rachaduras nas fachadas dos prédios, marquise tombada, postes caídos, marcas de onde houve incêndios.
As cenas eram espantosas, as Gangas usaram escavadeiras para derrubarem paredes de prédios, dez automóveis, um ônibus, um caminhão, todos tinham sido incendiados na batalha acirrada de traficantes rivais. Com o desmoronamento das paredes dos prédios, trinta pessoas morreram. Por enquanto, nenhum noticiário havia confirmado a morte de civis e inocentes no fogo cruzado. A mídia dizia que isso foi graças à rapidez e eficiência do cerco policial, que conseguiram retirar as pessoas antes que a situação fugisse ao controle.
Mas agora O VINGADOR estava de volta.

Final


Sebasthien chega à delegacia:
Barba feita cabelos presos, roupa limpa, ainda ouve Andrea falando com o delegado Romano:

- Espera aí! Nós arriscamos o pescoço naquele inferno por nada, você vai retirar os homens e deixar correr frouxo toda essa guerra infernal?  O exército não sabe lidar com marginais, isso é para nós! A Polícia!
Andrea sente a presença de Sebasthien e se vira.              
- Abre a boca com espanto devido à mudança do
VINGADOR. Vai até ele e o chama para saírem dali. Sebasthien diz.
               
= Não! Proponho uma trégua! Mais uma vez vamos agir juntos, seremos uma equipe até o fim desta guerra. Depois, Será cada um por si.

Andrea sorri e aperta a mão de seu amigo!

- Obrigado Sebasthien Rousseau!

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